**Adaptação Minhaco Jr., Geraldo
Era uma vez João, ele trabalhava numa empresa de médio porte, numa função administrativa. Apesar de seus quase oito anos de casa e do diploma em curso superior de Administração de Empresas, a seu ver não conseguira cargos melhores em função de sua timidez, muito acentuada, e da dificuldade de aprender uma segunda língua.
Ele estava conformado com seu salário e função, e nem lutava mais para algo melhor, até que chegou uma lista de demissões. Segundo a direção da empresa, o mercado estava fraco, e havia necessidade de cortar trinta por cento dos funcionários, entre administração e produção. Para surpresa de João, seu nome estava nessa lista. O mundo pareceu desabar para ele, que estava pretendendo casar-se no final do ano, e não só perdeu o emprego, mas também a noiva, o casamento, a auto-estima que despencou, junto com seus melhores sonhos.
Junto com o sentimento de perda, veio uma raiva tremenda, represada, vontade de brigar com o mundo, de recuperar o tempo perdido, o amor próprio, a mulher amada que nem o amava tanto assim; quando o viu desempregado não segurou a barra. Depois de muitos dias de choro, depressão e confinamento no quarto, João aceitou a sugestão de uma amiga para que procurasse ajuda profissional. Depois de algum tempo de terapia, João começou a mudar sua forma de agir e pensar, reformulou a ideia que fazia de si mesmo e do que merecia e queria da vida, modernizou seu currículo. Não foi por mágica, mas por esforço e trabalho árduo em si mesmo; claro que com ajuda profissional, mas hoje João está numa outra empresa, também de médio porte, mas sente que as portas estão se abrindo para ele, que está mais solto, mais senhor de si, demonstrando com mais desembaraço seus conhecimentos. Ah, e outra pessoa chegou em sua vida, desta vez com mais segurança, um sentimento mais afetivo e mais efetivo. Enfim, a vida não é nem será um mar de rosas, mas João parece mais apto a navegar em quaisquer águas.
Contei a história dele para refletir com você, meu leitor e leitora, sobre as perdas que temos na vida, e que, mesmo que a princípio pareçam irreparáveis, sempre trazem algum ganho. Ainda que pareça absurdo, pode-se aprender muito com as situações negativas que a vida nos apresenta, desde que se esteja disposto e pronto para isso. Todas as decepções e frustrações são verdadeiras lições de como lidar com a vida, do que ou como temos que aprender para os dias futuros. Perder, na maioria das vezes, é a consequência de algo muito maior, e anterior. No caso de João, o nome na lista poderia, talvez, ter sido casual. Mas poderia, também, e ele aceitou esse fato, ser o fruto da forma como ele era e pensava. Da forma como ele se enxergava: pequeno, tímido, limitado, incapaz de maiores conquistas. Foi preciso a perda para que a mudança acontecesse, devagar mas intensamente, em sua vida.
É assim com a maioria das perdas: elas vêm, muitas vezes sem que entendamos por que. No entanto, sempre há um ou vários motivos, entre eles o de sair da acomodação, do lugar comum ou mesmo da preguiça. Perder é triste, frustra, machuca, seja a perda de um amor, um emprego, uma oportunidade na vida. As pessoas sofrem de formas e intensidades diferentes com suas perdas, algumas até diárias, mas todo mundo sofre. O bonito é que tem muita gente, assim como João, que com ou sem ajuda profissional acaba superando, recomeçando em novas bases. Gente que chora, chora muito, esvazia toda a dor, mas depois se levanta e vai em frente. A vida é feita de riscos, uma porção deles, pequenos ou grandes, diários ou intercalados, mas sempre há perdas e ganhos, e quem não arrisca jamais cruzará a fita de chegada,
As oportunidades não caem no nosso colo, elas são criadas pelo que pensamos e fazemos de nossas vidas. Somos os autores de nossa história, e só nós. Não há co-autores, embora possa haver colaboradores, mas a autoria é só nossa. Você quer um emprego melhor, um amor mais seguro, uma vida mais saudável? Corra riscos, arrisque, tente. Há metade de chances de conseguir, mas se não tentar, não vai saber nunca. O ano acaba de começar, que tal tirar os projetos do papel e arriscar as mudanças, encarar as perdas? Lembre-se: os ganhos só estão esperando você se decidir. Boa sorte!
A esperança é um alimento da nossa alma, ao qual se mistura sempre o veneno do medo.
Voltaire
Nenhum comentário:
Postar um comentário