quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mudar para permanecer — Você está preparado?

*Por Dr. Lair Ribeiro (Palestrante internacional, ex-diretor da Merck Sharp & Dohme e da Ciba-Geigy Corporation, nos Estados Unidos, e autor de vários livros que se tornaram best-sellers no Brasil e em países da América Latina e da Europa. Médico cardiologista)

Muitas pessoas sonham com uma verdadeira transformação em suas vidas, mas querem que seja assim: vapt-vupt e pronto, se tornam outras pessoas, mais confiantes, bem-sucedidas, prósperas e felizes!
Na vida real isso não acontece. Por mais que sejam positivas e necessárias, mudanças costumam ser tão desgastantes que, mesmo querendo mudar, algumas pessoas relutam e tentam seguir sua vida do “jeitinho” de sempre.
A respeito das mudanças, os mais conservadores ou medrosos diriam: “É o mais sensato!” ou “Melhor não trocar o certo pelo duvidoso.”
Sim, o processo causa medo em muita gente. Trata-se de um medo físico, pois exige uma adaptação do nosso sistema nervoso sair da “zona de conforto”, buscando novos caminhos para conectar as áreas emocional e racional do cérebro.
As coisas, nem sempre acontecem como planejamos. Chega um momento em que é fundamental sair da inércia e implementar mudanças, que não necessariamente precisam ser gigantescas nem imediatas, mas podem ser muito singelas. Porém, quando surge a insatisfação, as pessoas, em vez de cogitar da possibilidade de mudança, tendem a ocupar a posição de vítimas e culpam a tudo e a todos pelos seus sentimentos. Em vez de eleger culpados, reflita sobre as suas atitudes e escolhas perante a vida e avalie se suas decisões têm ido ao encontro de seus valores e propósito de vida. Mudar alguns padrões de comportamento, como a falta de amor-próprio, o sentimento de culpa e a baixa auto-estima, pode resultar em uma grande diferença, incitando, até mesmo, o despertar de um novo ser.
Em geral, as pessoas têm uma reação muito previsível quando se deparam com a necessidade de mudança e costumam agir dentro de um ciclo conhecido como “Ciclo do pesar”, que inclui: choque, negação, raiva, negociação, tristeza, aceitação e desempenho. Vejamos como ele se desenvolve:

A primeira reação frente à necessidade de mudança é a de um verdadeiro “choque”. A pessoa fica anestesiada, sem conseguir aceitar que terá de mudar seus padrões, tão perfeitamente enraizados em seu modo de vida.
Após o “choque” inicial, vem a fase de “negação”, quando a pessoa tenta se convencer de que não precisa sucumbir à mudança e pode seguir sua vida exatamente como ela tem feito até o momento.
Ao conscientizar-se de que a mudança é realmente necessária, a pessoa passa por um estágio de “raiva”, pois ainda não conseguiu assimilar todos os aspectos da mudança nem aceita ter de abrir mão de seus padrões atuais.
Em seguida, ela entra na fase de “negociação” e tenta barganhar a possibilidade de manter algumas coisas e aceitar outros aspectos da mudança.
Ao se dar conta de que a mudança é inevitável e que precisará abandonar os padrões que estão bloqueando a sua produtividade, vem um sentimento de “tristeza”.
Por fim, superada a tristeza, chega a vez de contemplar um estado de plenitude e produtividade. É a fase de “aceitação e desempenho”, em que, finalmente, a mudança é implementada e a pessoa se dá conta de como ter optado pela mudança poderá beneficiá-la... até a próxima mudança!

É incrível pensar que passamos por todos esses estágios mesmo quando a mudança representa algo positivo e desejado. Tenha em mente que você tem a liberdade e o direito de fazer as escolhas que podem tornar sua vida melhor e mais feliz, assim como tem o poder de abrir mão daquilo que lhe traz dor, tristeza e infelicidade. Ou seja, mudar está ao seu alcance, sempre.

Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o.
Buda

Mensagem de fé aquece noite nas ruas (vale a pena a leitura e a reflexão)

*Por Stefanie Archilli - Jornal de Limeira

Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho, eu te dou: em nome de Jesus Cristo, levanta-te e anda. (Atos dos Apóstolos, 3,6)".

A passagem bíblica é a tradução de um trabalho realizado em Limeira por voluntários chamados de Mensageiros da Noite. Eles utilizam recursos próprios e com a palavra de Deus oferecem muito mais do que comida e roupas; eles distribuem afeto e carinho aos moradores de rua.
O versículo citado no início dessa matéria está escrito no uniforme dos Mensageiros da Noite, um grupo formado dentro da Paróquia Santa Luzia, na Vista Alegre. Vestidos com uma camiseta preta, eles se infiltram em um universo onde só existe a fé e a amizade. "Eles (moradores de rua) não têm nenhum apego material, mas tem muita fé. Quando perguntamos a eles, como você está? A resposta é sempre: 'graças a Deus estou bem e feliz'", falou o mensageiro Daniel Blumer Padron, 24 anos.
O jovem casal, Daniel e Audren Aleixo, 24, deixaram de lado qualquer preconceito para seguir um caminho que outro casal, Antonio Gabriel Lino e Cristina Bastelli Lino, 48, percorre há 10 anos, desde o início do projeto. "É um trabalho difícil, mas muito gratificante. Em 10 anos recuperamos muitas pessoas.
A sopa que alimenta os moradores de rua também é multiplicada. "Ela nunca acaba. Tem dia que parece que não vai dar para alimentar todos, mas sempre dá", falou Daniel.

O TRABALHO
Os Mensageiros da Noite entregam sopa, pão, café, roupas, cobertores e muito carinho e atenção aos moradores de rua. É um trabalho realizado pelos fiéis da Paróquia Santa Luzia, presidida pelo padre Ismael Vanderlei Avi. "Começou com um grupo de jovens que faziam o terço nas casas. Daí eles viram a necessidade de fazer um trabalho mais abrangente. Começaram com um dia de visita e hoje são dois, às segundas e sextas-feiras", declarou Lino.
O trabalho é feito das 20h às 1h30 às segundas e das 22h30 às 5h30 às sextas-feiras. No total, 38 pessoas se revezam em grupo de quatro na entrega da sopa durante a noite. Outras 20 pessoas são responsáveis pela sopa, o café, os mantimentos e o pão. "Tudo sai do nosso bolso ou de doações. O carro que usamos é de algum mensageiro, a comida é feita por voluntários. E não temos hora marcada para terminar a entrega. De sexta-feira começamos mais tarde, porque como a cidade está movimentada, os moradores de rua se escondem, daí os encontramos apenas de madrugada", falou Lino.

NA CAÇA
Na rua, o primeiro lugar que foi visitado foram os arredores da Santa Casa.
"Vamos à caça", disse Daniel.
Os mensageiros descem do carro e dois deles dão uma volta pelo quarteirão da Santa Casa a procura de moradores de rua. Eles já conhecem os locais onde eles dormem, mas a maioria nunca permanece por muito tempo no mesmo lugar. "O que acontece muito é que os moradores próximos espantam eles. Porque eles fazem as necessidades no lugar, daí fica um mal cheiro ou porque as pessoas têm medo mesmo. Daí eles procuram outro lugar para ficar, depois voltam", declarou a mensageira Cleide Venancio Donegá, 41.
Aos arredores da Santa Casa não encontramos nenhum morador. Daí partimos para a avenida Comendador Agostinho Prada, onde estava Igor, 16. No semáforo, outros jovens como Igor costumam pedir esmolas. Os mensageiros não dão dinheiro, entregam apenas a comida e oferecem uma oração.
Neste dia Igor não aceitou, então partimos para outra visita, à casa de dona Cidinha, que apesar de ter um cômodo para morar, vive em condições precárias. "Sempre visitamos a dona Cidinha. Têm algumas pessoas que não mudam de lugar, por isso sempre conseguimos encontrá-las. Agora quando nunca mais encontramos eles nas ruas, é porque ou morreram ou voltaram para sua família. Não dá para saber qual é o fim deles", declarou Cristina.

FAMÍLIA
Cristina encontrou, por mais de uma vez, pessoas mortas na rua. "Uma história que me marcou foi de um homem que morava dentro de um barranco. No Natal, levamos comida e presentes para ele. No dia seguinte, ele foi encontrado morto. Esse tipo de cena choca muito. Outra que não consigo esquecer é de quando encontramos uma família, casal e quatro crianças morando na rua. A pior coisa é encontrar crianças", disse.
Lino chegou a resgatar meninas que estavam em uma casa de prostituição. "Aos poucos fomos 'roubando' elas da casa e colocávamos elas dentro do ônibus de volta para o Maranhão. Em 10 anos de mensageiros, já vimos de tudo nessa vida."
Segundo ele, mais de 10 mil pessoas já devem ter sido atendidas pelos grupo. Seu Chico, que mora na praça onde fica o hospital Humanitária, no Jd. Nova Itália, é conhecido há oito anos. "Tem algumas 'figurinhas' já carimbadas, como o Steve - que perambula pela cidade olhando para cima - e o Barba, que come lixo das cestas da Praça Toledo Barros", contou Cristina.
De acordo com Cleide, a maioria tem família, mas opta por morar nas ruas por vários motivos, entre eles o alcóol e as drogas. "Seis ou sete que realmente são moradores de rua e não tem família. Muitos estão na rua porque foram rejeitados pela família."
Mas existem casos como de Eurídes Pires Cardoso, 64, que ficou sozinho no mundo, e aguarda sua aposentadoria para conseguir sair das ruas. "Aprendemos grandes lições com eles e começamos a dar mais valor por termos uma família, uma casa. A gente não tem nenhum problema nessa vida", declarou Audren.

LIÇÕES
A cada visita, a cada lugar que eles entram, em cada rosto que sorri para os mensageiros, existem histórias de vida, que engrandecem esse trabalho que transmite o verdadeiro sentido do amor ao próximo.
Os mensageiros abraçam essas pessoas, escutam suas histórias, dão risadas com eles e, antes de se despedirem, todos dão as mãos e oram por Deus.
Nem mesmo o vício em crack tira a fé de pessoas como Nelson. E mesmo depois de perder tudo nas enchentes do Rio Grande do Sul, ainda existe fé e esperança para outro Nelson, esse encontrado pelos mensageiros após a reportagem se despedir do grupo. Nessa noite, duas novas lições de vida foram ensinadas aos voluntários, de dois Nelson, que ainda encontram felicidade nas ruas da cidade.

"Cheguei nas ruas pelas escolhas que fiz. Se voltasse no tempo, não teria usado crack"
O depoimento mais surpreendente da noite foi de um morador de rua, pai, viciado em crack, que sonhava em se tornar pastor. Nelson, 32 anos, está há um mês em Limeira e essa foi a primeira vez que o grupo da Paróquia Santa Luzia o encontrou nas ruas da cidade. Um motociclista avisou os Mensageiros que um homem dormia em frente a um estabelecimento comercial localizado na rua Duque de Caxias. O grupo abordou Nelson, que desde o início se mostrou receptivo e, não teve receio de dividir com os Mensageiros a sua história de vida. "Saí de Bauru e apenas passaria alguns dias em Limeira. Mas resolvi ficar por aqui. Estou nas ruas porque tudo o que consigo ganhar vai para o meu vício", declarou Nelson, que é viciado em crack há 12 anos.
Ele passou por sete internações e não consegue se livrar do vício que destruiu a sua vida e seus sonhos. "Me sinto um trapo. Cheguei a um estágio da minha vida, que fico aguardando a morte. Às vezes questiono Deus porque Ele deixou eu chegar a esse ponto. Já fui preso e minha vida se resume a olhar os carros, pegar o dinheiro e gastar tudo com o crack", relatou.
Nelson ganha por dia em média R$ 40 trabalhando como flanelinha. Todo o dinheiro é gasto com a droga. Segundo ele, a pedra de crack custa R$ 10 - de boa qualidade - ou R$ 5. "Depende do horário que chego, ainda pego a de R$ 10. Não consigo guardar esse dinheiro para pagar um quarto para dormir e tomar um banho. Parece que minha vida está condicionada ao vício. Até quando vou suportar isso?", falou.
Na noite que encontramos Nelson, ele não tinha consumido a droga, por isso estava com fome. "A droga tira a fome e o sono. Daí só durmo se tomar uma garrafa inteira de pinga. Se não fico sem dormir. Cheguei aqui pelas escolhas que fiz. Se voltasse no tempo, não teria usado crack", declarou o morador de rua, com lágrimas nos olhos.
Nelson também se emocionou quando falou do filho Mateus, que não o vê desde 2002. "Quando saí de uma das internações, voltei para casa e não o encontrei mais. Ele foi embora com a mãe. Gostaria de reencontrá-lo, mas não desse jeito que estou hoje", disse.
A única força que ainda move a vida de Nelson é a fé, mas a esperança foi perdida há muito tempo. "Converso todos os dias com Deus. Acredito que preciso ter um encontro pessoal com Ele para ser liberto. O primeiro sinal Ele me deu hoje. Hoje estou desabafando com vocês e ouvindo todas essas palavras de vocês porque Deus ainda não desistiu de mim."

Juventude perdida
"Fugi de casa nesse ano e acabei em Limeira. Vim surfando no trem. Ando sozinho pelas ruas. Não quero voltar para casa", Igor, 16, veio de São Carlos e costuma ficar no semáforo da esquina da avenida Comendador Agostinho Prada.

Uma guerreira
"Faço essa sopa render para dois dias para eu, meu filho e nora que tem problemas mentais e meu filho que é alcóolatra. Ainda tem minha neta que é drogada, mas ela não está aqui no momento. Ela já vendeu até os copos da minha casa para comprar drogas. E tudo o que tenho aqui dentro foram os parentes que me deram. E sobrevivemos com a ajuda das paróquias que doam a cesta e a sopa", Dona Cidinha, 89, que mora com a família em uma casa simples atrás do Cemitério Saudades. Ela cuida sozinha de todos e sempre se emociona na hora da oração, após receber a sopa dos Mensageiros.

Alegria nas ruas
"Estou aqui (nas ruas) porque gosto. Tenho meus amigos e meu carrinho para coletar recicláveis. Trabalhei na Prefeitura de Limeira, depois fui funcionário público no Estado e tive que ser afastado por problemas na vista. Vim para as ruas e deixei todos meus documentos com uma pessoa, que guarda tudo. Acredito na amizade e na sabedoria de Deus", Seu Chico, 52, encara a vida nas ruas com muito bom humor. Encontramos ele e os amigos Índio e Guilherme, às 23h de uma segunda-feira, sentado no gramado da praça onde fica o hospital Humanitária, no Jd. Nova Itália.

À espera da aposentadoria
"Tô nesse mundo faz tempo. Minhas irmãs morreram e fiquei sozinho, ou melhor, ficamos eu e Deus. Falta um ano para receber a aposentadoria, daí vou sair das ruas, vou pagar um lugar para morar. Não sinto frio ou fome. Olha quantos cobertores me deram e ainda recebo comida desses anjos (Mensageiros). E eles não entregam só a sopa. Conversam comigo, escutam o que tenho a dizer. Sou muito feliz", Eurídes Pires Cardoso, 64, que é natural da cidade de São Pedro, dorme todas as noites em frente a um imóvel localizado na rua Lavapés, no Centro. Eurídes prometeu pagar um churrasco para os Mensageiros quando sair sua aposentadoria. E ele aguarda a chegada do dia que poderá receber os amigos em sua casa.
Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.
Georges Bernanos